O projeto Garotas Applicadas, iniciativa da Associação Efigênia Vidigal de Educação e Cultura (Avec) em parceria com o Instituto Embraer e o UniBH, concluiu as atividades de sua primeira turma no último domingo (15/12). A iniciativa reuniu 35 meninas do ensino médio de escolas públicas de Belo Horizonte para aulas de programação, desenvolvimento pessoal, liderança, negócios e empreendedorismo. As adolescentes tiveram a missão de desenvolver aplicativos para contribuir para a solução de problemas reais de suas comunidades.
Divididas em grupos, as jovens desenvolveram seis aplicativos. Saúde mental, autoestima, abrigo voluntário, plantas e educação foram as temáticas que inspiraram os projetos desenvolvidos pelas garotas. Os apps foram apresentados a uma banca composta por Davi Reis, engenheiro de software do Google; Fernanda Altoé, Supervisora de Engenharia da Embraer S/A; Renata Ferreira, desenvolvedora de sistemas de troca de mensagens automática e a psicóloga Alane Michelini. A produtora e repórter da Globo Minas, Tabata Poline, foi escolhida como paraninfa da turma.
“Foi incrível ver a evolução dessas meninas. É muito interessante ver do que elas são capazes quando têm a oportunidade certa de se desenvolver. A gente sabe que as escolas públicas têm suas limitações, inclusive orçamentárias, então ficamos satisfeitos de poder dar essa oportunidade. Queremos que elas levem isso para a vida e as famílias também. Que saibam que são capazes de ir mais longe e que podem frequentar uma universidade, seja na área de tecnologia ou não. Isso não importa. Importa mais promovermos capacidades para essas meninas e elas terem autoestima e confiança em si mesmas”, resume a voluntária líder do projeto Garotas Applicadas, Marilia Souza.
Lucimar Lisboa, mãe das alunas Lana e Luize Lisboa, que integram a equipe de desenvolvimento do app Happy Help, também destaca a evolução e o empoderamento adquirido pelas alunas ao longo do curso. “Eu vi as meninas, não só as minhas porque no primeiro dia eu tive a audácia de participar das aulas, muito tímidas. E agora, no final, vi meninas muito determinadas e com projetos incríveis. Neste contexto que a gente vive em que muitas vezes se coloca a separação dos que têm e dos que não têm, do particular e do público, você ainda vê oportunidades, que é o que falta para todos. Falta iniciativa e boa vontade e a Avec fez isso. Pegou este contexto e resolveu fazer diferente. Têm muitos meninos na área tecnológica, porque não fazer para as meninas e ver como elas abraçam isso. E aí elas ousaram e ficaram com brilho no olhar, descobriram que podem criar, que podem fazer. Elas saem daqui diferentes de como chegaram”, diz.
Apps desenvolvidos
Durante 20 semanas as adolescentes participaram de encontros semanais, sempre aos sábados. Muito além das técnicas de programação, o conteúdo das aulas envolveu discussões sobre o papel da mulher na sociedade atual, empreendedorismo, marketing, dentre outros. “O projeto abriu novos horizontes pra gente e a nossa mente para novas coisas. Pude aprender muito sobre a programação, que é uma coisa que não tinha muita vivência. Pude colocar a mão na massa, fazer um aplicativo, enfrentar e superar as dificuldades”, conta a aluna Lana Lisboa.
Um guia de estudos, o Easy Study, foi o aplicativo apresentado pela primeira equipe. Com funções multimídia, a proposta é que seja totalmente gratuito e ajude os estudantes no aprendizado de diferentes conteúdos.
A saúde mental foi o que motivou a segunda equipe. O aplicativo Happy Help reúne funcionalidades para ajudar pessoas que sofrem com transtornos mentais. Pesquisa apresentada pelo grupo e que embasou o trabalho mostra, dentre outros dados, que o Brasil é o sétimo no mundo com maior taxa de transtornos mentais, como ansiedade e depressão. No Happy Help, os usuários poderão expressar sentimentos, ter acesso a conteúdos sobre saúde mental, buscar profissionais qualificados e muitos mais. Gratuito para os usuários, o app será monetizado com a cobrança de taxas dos profissionais cadastrados.
Makestima é o aplicativo desenvolvido pela terceira equipe. As garotas apresentaram pesquisas com dados assustadores sobre autoestima no mundo. A ideia do aplicativo é valorizar a autoconfiança e trazer a maquiagem como ferramenta de bem-estar. O app busca promover a beleza real com dicas de make, livros, filmes e muito mais.
A realidade vivida pelas meninas em suas escolas motivou a criação do app da quarta equipe. O Face School traz um ambiente virtual para registro de toda a rotina escolar, com cronograma de provas e horários de aulas, por exemplo. Gratuito, o Face School é voltado para escolas públicas e o modelo de negócio propõe parcerias com as Secretarias de Educação e possíveis anunciantes. O app, além da praticidade de uso para professores, pais e alunos, também gera economia de papel.
Voltado para o público LGBT e mulheres vítimas de violência doméstica, a quinta equipe apresentou o app Take Care. A ideia é conectar pessoas que buscam abrigo e pessoas que oferecem abrigo. As garotas apresentaram pesquisas que indicam que 75% dos homossexuais têm medo de serem expulsos de casa, 42% da violência contra mulher é cometida dentro de casa, enquanto que 55% dos entrevistados acolheriam pessoas nessas situações.
Um app gratuito para os amantes de plantas e cultivos. Esse é o Reflor, projeto desenvolvido pela sexta equipe. O aplicativo reúne informações sobre plantas, principalmente relacionadas aos cuidados, de forma prática e totalmente em português (diferente dos concorrentes). O aplicativo traz a proposta de parceria com floriculturas, que podem oferecer descontos além de divulgar o próprio app em seus produtos.
Garotas empoderadas
A educação tecnológica é vista como uma das portas para o empoderamento feminino. E este é um dos pontos relacionados a uma das finalidades da AVEC, que busca atender ao Objetivo do Desenvolvimento Sustentável nº 5 da ONU, que é justamente alcançar a igualdade de gênero.
Tabata Poline, jornalista da Globo Minas escolhida como paraninfa da turma, contou que também estudou a vida inteira em escola pública e que sempre foi incentivada pelos pais a estudar. “A gente, que vem de uma origem com menos recursos, tem que pedalar muito mais forte. Mas, isso não significa que não vamos chegar”, contou a repórter que ficou impressionada com os trabalhos apresentados. “As ideias dos aplicativos são sensacionais. Trouxeram assuntos na área de educação, saúde mental, meio ambiente, de autocuidado e aceitação. Vemos o tanto que as meninas são engajadas e antenadas com tudo que está acontecendo, e principalmente, com o tanto que se importam com o outro”, disse.
Avec, educação e cultura
Acreditando que a cultura e a educação são ferramentas primordiais na inclusão social, a AVEC promove a cidadania por meio de ações que valorizam novas experiências educativas e culturais através de parcerias com escolas públicas, realização de projetos para alunos do ensino público, promoção de eventos socioculturais para a comunidade, entre outras atividades.
A entidade aceita doações para manutenção de suas iniciativas. Quem quiser apoiar, pode doar através do Banco do Brasil – 001, Agência: 1629-2, Conta: 127979-3, CNPJ: 04.763.874/0001-51