Efigênia Vidigal, uma Educadora amorosa
Toda educação de verdade pressupõe amor e cuidado.
Minha irmã Efigênia era uma pessoa amorosa. Aprendemos isso em casa, com nossos pais,
que eram pessoas simples e afáveis. Uma grande alegria deles era acompanhar nossa
trajetória na escola, onde tivemos oportunidades que eles não tiveram.
Efigênia também era assim. Competente, estava sempre aberta a novos conhecimentos.
Dedicada a seus alunos, ficava feliz com o sucesso deles. Vi isso refletido numa carta que
recebi em 2001, vinte e quatro anos – tanto tempo! – após o seu falecimento.
Naquele ano, um seu ex-aluno, Carlos Perktold, psicanalista e psicoterapeuta de referência em
BH, foi condecorado pelo Governo de Minas com a Medalha da Inconfidência. E ele me conta
que, entre tantas lembranças que lhe ocorreram no momento, a mais constante e a mais
importante foi a de sua querida professora Efigênia. Pensou que ela saberia entender a
grande distância que ele percorreu, até chegar àquele dia de reconhecimento.
São suas palavras: “Quero deixar registrado com você minha dívida de gratidão por tudo que
Efigênia fez pelo menino que fui. Parafraseando meu amigo Lindolfo Paolielo que escreveu
uma crônica linda sobre a infância dele, hoje, se pudesse, perguntaria a Efigênia se aquele
menino é, agora, o adulto que ela gostaria que eu fosse.”
Efigênia, Mestra querida e sempre lembrada!
Maria José Vidigal, em junho de 2023

UMA HISTÓRIA COM EFIGÊNIA

Será que vou conseguir fazer esse trabalho? Eu me perguntava enquanto voltava
para casa depois da aula no Curso Chopin, um curso de admissão, que frequentei como se
fosse um preparatório para entrar no curso ginasial. Eu ia fazer o exame de seleção do
Instituto de Educação, para seguir a tradição das filhas de uma família numerosa em que todas
tinham que estudar numa boa escola pública para seguir a carreira do magistério.
O ano era 1959. Eu deixara o Grupo Escolar Melo Viana no final do ano anterior,
onde Efigênia e Maria José eram professoras e onde ficara a professora querida, dona
Antônia.
O curso de admissão não era brincadeira. A disciplina era rigorosa. Vários
professores homens, muito dever de casa e um desafio: quem tirasse a melhor média nas
provas ganhava uma caixa de bombons, entregue no pátio pelo diretor, quando todas as
turmas faziam fila para a entrada.
Um dia, o professor de matemática ficou bravo com a indisciplina dos alunos e
mandou que todos copiassem 10 vezes uma lista de 20 operações de multiplicação e divisão
com 4 algarismos. Foi difícil entender porque alguns conversavam e todos pagavam a conta,
mas havia muito apoio em casa, irmãos que ajudavam e na aula seguinte, nem mesmo o
professor se lembrara do castigo!
Será que eu vou conseguir fazer esse trabalho? Era preciso representar as regiões de
Minas Gerais, com as principais características de cada uma delas, como pedira o professor de
Geografia: Triângulo, Norte, Campo das Vertentes, Sul, Zona da Mata, Jequitinhonha,
Central… se eu falar sobre isso a Efigênia… Nem preciso pedir a ajuda dela, é só dizer que
gostaria de fazer um bom trabalho.
Efigênia indicou-me um grande mapa de Minas, com certeza era um dos mapas que
ela usava com seus alunos. Deu-me também um caderno de desenho, daqueles com papel de
seda entre as folhas, para representar cada região separadamente com ilustrações. O tamanho
do desenho facilitou o destaque de dados como área, população, principais cidades, rios,
clima e vegetação para cada região. Para representar a produção, procurei desenhos para o
café, minério, milho, frutas e usei muitas cores. Ficou muito bonito!
Foi muito bom fazer o trabalho, mas ver a cara do professor foi melhor ainda: ele
ficou maravilhado! A maioria dos alunos tinha feito o trabalho numa folha só, destacando as
regiões no mapa inteiro de Minas. Com tantas informações para cada região, o trabalho tinha
sido inovador.
Efigênia indicava a seus alunos o caminho do esmero, do aprimoramento, da
diferenciação, da realização. Ensinava-nos a buscar o melhor de nós mesmos, ensinava-nos a
crescer.
Ainda hoje, no trabalho que tenho realizado na Avec nos últimos sete anos, Efigênia
é para mim uma inspiração e muitas vezes me pergunto quantas pessoas guardaram e guardam
dela boas lembranças.